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26 julho 2007

As Built. As possible. [comentários e reflexões]

Quem me conhece sabe qual é minha opinião sobre a profissão de arquiteto nos dias de hoje. Mesmo assim, quero colocar aqui umas palavrinhas.
No último post, meu colega cita o "arquiteto-estagiário-de-si-mesmo" e não posso fazer nada mais que concordar com o fato. Realmente, fazemos múltiplos papéis, nos desdobramos e nos contorcemos para desempenhar da melhor forma a tarefa de ser um arquiteto.
É verdade que se "glamouriza" demais nossa profissão em filmes de hollywood, em novelas tupiniquins, onde somos retratados como verdadeiros seres inspirados, artistas suspirantes. Me deixa pasma como esses arquitetos de folhetim conseguem levantar um prédio sem estar presente na obra ou até mesmo passando madrugadas em frente ao micro (leia-se AutoCad) tentando resolver aquele acesso, aquela circulação, tentando gerar a plotagem direito, enfim...atuando na profissão. Na ficção, estão sempre bem vestidos, de maneira elegante, um " despojado-chic", mocassim-sem-meia-jeans-camiseta-blazer-modernoso, dirigem carros bacanas e portam acessórios de última geração com design arrojado.
Ai, ai....
Vamos ser sinceros. Aqui no Brasil arquiteto é "coisa de madame". Sim, porque a imagem que a mídia oferece é de que somos artigo de luxo, supérfulos, coisa de gente rica e esnobe que tem dinheiro de sobra e pode se dar ao luxo de nos contratar.
Mas tem o outro lado também. Os que acreditam que um arquiteto é um pedreiro mais informado, ou um desenhista de quadradinhos (faz um "desenhozinho aí rapidinho, coisinha simples? Um projetinho da reforma, da decoração da minha casa..."). É brincadeira?
Isso é culpa dos próprios arquitetos, que ao longo de muitos anos não lutaram para valorizar sua imagem, para informar de que se trata nossa profissão. E me incluo nessa, porque tá tudo tão banalizado que, se a gente não desce um nível, não consegue trabalho. Tá cheio de arquiteto se virando, fazendo bico, free-la, "desenhozinho", tudo o que aparecer. A gente engole cada sapo!
A verdade é que não é tão oneroso assim contratar um arquiteto. Na maioria dos casos, este profissional é imprescindível. Ele está atualizado sobre materiais, sistemas construtivos, tendências, pode ajudar na definição do layout de seu imóvel, na decorção, na administração da obra, contratação de profissionais (lidar com fornecedores e prestadores de serviço), cuidar do paisagismo (do projeto até sua execução), preparar orçamentos, visitar lojas com você, fazer os projetos detalhados, aprová-los na prefeitura...isso só pra citar algumas coisas. Porque o arquiteto faz isso tudo e mais um pouco. E o que ele mais faz, acredito, é ser piscicólogo.
Seria ótimo se a profissão fosse mais compreendida. Que tivéssemos a união que os advogados ou os médicos possuem, a maneira de se organizarem, de se valorizarem e se defenderem. Seria sensacional colocar em prática uma coisa que ouvi outro dia: assim como nas escovas de dentes vemos escrito "recomendado por dentistas", "consulte seu dentista", nos anúncios de medicamentos "a persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado" seria bacana ver numa caixa de azulejos: "para melhor utilização, consulte um arquiteto" ou coisa assim.


Tô me alongando e não quero esgotar o tema agora nem tomar seu tempo. Origada por ter lido até aqui. Volte logo ao blog pra ler mais, tá? Você é bem-vindo.

Um abração aos meus colegas (guerreiros) queridos. E aos amigos também!!!

As Built. As Possible.

Fala-se tanto sobre o glamour de ser arquiteto - uma das profissões preferidas de Hollywood para um personagem que encontra um controle remoto mágico, por exemplo - mas estou certo de que os arquitetos sabem que não é bem assim. Olhemos o "As Built". O As Built não deixa duvida a respeito de que tipo de trabalho é arquitetura. Pequenos projetos não comportam hoje em dia terceirizações extravagantes como um táxi ou um café espresso, por exemplo; contratar alguém para fazer o levantamento métrico então é equivalente a pagar alguém só para dar trim nos seus desenhos. Sim, é meio chocante para o cliente ver aquela pessoa que outro dia estava toda arrumada sentada a sua frente assinando um contrato de projeto se esticando para fora de uma escada balançando enquanto grita para seu ajudante do outro lado do telhado "deu?? deu aí?!?" Chocante mas real. Se o glamour resiste a esta cena, se resiste ao arquiteto-estagiário-de-si-mesmo, então ok, arquitetura é uma profissão glamourosa. Mas pra mim, não importa até onde um arquiteto pode chegar, pode projetar uma cidade inteira ou dar palestras na ONU sobre o futuro da humanidade; arquitetura vai continuar sendo aquela profissão onde você eventualmente passa o dia se contorcendo em um banquinho com os braços abertos sobre a cabeça, tentando tirar uma medida que você sabe que não adianta muito ter, afinal está tudo fora do eixo, e você só está mesmo ali pela diversão perversa de olhar, na cara estarrecida do cliente, até que ponto você pode chegar como ser humano. Terça-feira, Agosto 15, 2006

Texto extraído do blog (www.architecture.blogger.com.br)